Li uma reportagem no site da revista Marie Claire, uma história de vida muito
emocionante, fala de superação, é incrível, muito linda, uma verdadeira lição de
vida, onde podemos perceber que com perseverança nada é impossível, basta
querer.
Luciana Scotti tinha 22 anos quando sofreu um AVC e ficou tetraplégica e muda. Perdeu o
emprego, o namorado, os amigos e hoje, 18 anos depois, mexe só o dedo médio da
mão esquerda. Mas resolveu não parar. É fluente em três idiomas, cursa o
segundo pós-doutorado, têm diversos livros e artigos publicados e coleciona prêmios.
Segue
parte da entrevista dada a revista por Luciana:
Tenho duas vidas. Não consigo
explicar de outra forma o que vivo.
Eu era uma jovem bastante normal. Pertencia a uma família de classe média e era
uma garota bonita.
Aos 17 anos,
passei em cinco vestibulares e comecei a cursar Farmácia e Bioquímica na
Universidade de São Paulo (USP). No fim do primeiro ano da faculdade, ganhei
minha primeira paixão: um carro vermelho, lindo! Uma surpresa inesquecível,
presente de aniversário do meu pai, que se tornou meu companheiro no início dos
anos 90. Nesse mesmo período, conheci o Lucas, um judeu loirinho e simpático,
formado em engenharia pela USP. Eu era
uma jovem dinâmica e ativa. No mesmo ano, resolvi começar a
trabalhar.
Em meados de 1993, comecei a
ter dores de cabeça que, apesar de desaparecerem com aspirinas, estavam ficando
cada vez mais frequentes. Decidi
marcar uma consulta com a ginecologista, queixei-me das dores, mas ela disse que
não era nada grave. Passei um ano com o problema. E, num domingo, dia 1 de maio
de 1994, vi o Ayrton Senna morrer. A data me marcou demais. Não que eu
imaginasse que, no dia seguinte, seria eu a próxima vítima – de um tipo
diferente de morte, mas morte. Na segunda, acordei, me vesti e fui trabalhar.
Trabalhei o dia todo, não senti nada de anormal. No fim da tarde, fui buscar
meu irmão na USP, para irmos para casa. Quando chegamos, me apressei em ir até
o banheiro para escovar os dentes. Na sequência, iria ao shopping. Mas antes de sair do banheiro, senti uma forte
tontura e gritei por socorro.
Quase imediatamente entrei em convulsão. É uma sensação horrível!
Tentava controlar meus movimentos, mas os músculos não paravam de tremer. Minha
família ficou apavorada. Meu pai massageava meu coração. Meu irmão cuidava para
eu não morder a língua, colocando uma escova de dente na minha boca. Enquanto
isso, minha mãe ligava para o resgate. Alguns vizinhos ouviram a confusão e
vieram ajudar. Me pegaram no colo e me colocaram num carro. São mais que
vizinhos, são queridos amigos de quem até hoje recebo muito carinho e apoio.
Quase não conseguia falar e, naquela confusão, não sabia se minha família viria
atrás do carro ou não. Fui para o pronto-socorro Municipal de Santana. No
caminho, pedia calma com a mão, não tinha a mínima ideia do que estava por vir.
Agora entendo porque, em um pronto-socorro municipal, cuja fila é
enorme, fui atendida logo. Colocaram-me em uma maca e levaram-me direto para a
consulta. Na sala do médico, havia algumas enfermeiras que delicadamente
tiraram meu relógio, gargantilha e brincos. Precisavam ser delicadas para eu
não me machucar, pois meu corpo trepidava. Minha família me achou no
pronto-socorro, depois de percorrer todos os hospitais da região. Ao lado da
maca, minha mãe segurava a minha mão, e eu me perguntava quem seria aquela
pessoa. De olhos fechados e com muito esforço, só conseguia falar mamãe e
papai. Ironicamente, as primeiras
palavras que aprendi seriam as últimas que eu diria.
Aos poucos ia chegando a hora da metamorfose.
Inconscientemente, eu dava adeus aos meus longos cabelos aloirados, aos meus
passos, à minha voz (que nunca mais ninguém ouvirá), aos movimentos, às danças
nas festas, ao meu querido carrinho e a mais um milhão de coisas. Fui
transferida de ambulância para um hospital particular. Apenas meu pai me
auxiliava, com um balão de oxigênio. Era difícil de respirar.
No novo hospital, um enfermeiro me pôs em uma maca. Levaram-me para um
quarto. Tiraram minha roupa e me vestiram com um daqueles camisolões de
hospital. A convulsão continuava. Lembro-me dos médicos ficarem discutindo o
diagnóstico em volta da cama. Fui ficando atordoada, senti um mal-estar
repentino e vomitei. Uma enfermeira que me acompanhava falou para o colega
dela: “Ela não passa desta noite”. Depois dessa frase, já não lembro de
nada. Entrei em coma. Durante esse período, não tinha consciência de onde
estava, tudo parecia um sonho. Acordei dois meses depois, em outro hospital,
careca, muda, tetraplégica, com sonda nasogástrica, fraldas e cicatrizes.
Quando saí do coma, achei que tudo só podia ser um pesadelo. Longo e cheio de
detalhes, mas um pesadelo. Podia jurar que não tinha estado em coma, mas na
minha cama, dormindo.
PESADELO
A verdade, no entanto, era outra. Sofri um Acidente Vascular Cerebral e minha nova realidade era aquela: feia, muda e sem movimentos. Lembrava da última vez que tinha me visto no espelho antes do AVC e sentia desespero. Saudade, tristeza, abandono... senti tudo, principalmente revolta e ódio. A combinação do cigarro com anticoncepcional aumenta muito o risco de a mulher sofrer um AVC e eu e minha ginecologista deveríamos ter percebido isso. Alguns especialistas me disseram que a pílula foi 100% responsável pela trombose que levou ao rompimento de uma das veias do meu cérebro. Outros acham que não foi o fator principal. Porém, a mistura da pílula com o cigarro deveria ter sido evitada e eu deveria ter dado atenção às dores de cabeça que não passavam. Se tivesse agido de outra forma, hoje estaria andando.
A verdade, no entanto, era outra. Sofri um Acidente Vascular Cerebral e minha nova realidade era aquela: feia, muda e sem movimentos. Lembrava da última vez que tinha me visto no espelho antes do AVC e sentia desespero. Saudade, tristeza, abandono... senti tudo, principalmente revolta e ódio. A combinação do cigarro com anticoncepcional aumenta muito o risco de a mulher sofrer um AVC e eu e minha ginecologista deveríamos ter percebido isso. Alguns especialistas me disseram que a pílula foi 100% responsável pela trombose que levou ao rompimento de uma das veias do meu cérebro. Outros acham que não foi o fator principal. Porém, a mistura da pílula com o cigarro deveria ter sido evitada e eu deveria ter dado atenção às dores de cabeça que não passavam. Se tivesse agido de outra forma, hoje estaria andando.
Depois
da Trombose Cerebral e de ter ficado tetraplégica, vivi três anos sobre uma
cama hospitalar. Durante
esse período, observei quase todo mundo se afastando de mim. Lentamente, fui esquecida pelos meus 150
“queridos amigos”. Cada um que me deixou, me preencheu com uma
mágoa eterna. O Lucas foi um deles. Ele foi diminuindo a frequência das
visitas, até parar de me ver. Chorei, revivi todo meu passado, procurei culpas
e culpados e pensei: morri, acabou tudo!
O que eu não sabia é que, na verdade, estava começando uma segunda vida.
Não tinha
saída. Eu poderia chorar a vida inteira pelo romance acabado e pela tetraplegia
ou parar de chorar e começar a viver. Optei por viver: aos trancos, aos
farrapos, aos pedaços. Mas o tempo tem uma força estranha, e com ele comecei
a escrever meus pensamentos amargurados com o movimento de um único dedo, o
médio da mão esquerda. Em um notebook, digitava no meu colo, na cama. No começo,
cheguei a passar um dia para completar uma página. Depois de quase um ano de
esforço, terminei meu primeiro livro: Sem Asas ao Amanhecer. Hoje, ele está na
décima primeira edição. Mas não me contentei. Escrevi outro chamado A Doce
Sinfonia de Seu Silêncio.
Como sou muito ativa e odeio
ficar parada, voltei a estudar.
Fiz mestrado e publiquei um livro científico sobre cosméticos. Em 2006,
terminei o doutorado. Depois, fiz três anos de pós-doutorado, sempre na USP, e
ganhei vários prêmios acadêmicos. Também aprendi sozinha inglês, italiano e
espanhol. Há três anos me mudei para João Pessoa. Meu irmão passou em um
concurso e começou a trabalhar na Universidade Federal daqui. Em pouco tempo,
estávamos todos juntos. Logo procurei um modo de contribuir com a instituição. Estou no segundo ano de um novo pós-doutorado,
já participei de mais de 30 congressos, tenho artigos publicados no exterior e
sou revisora de revistas científicas.
É
uma história emocionante e que vale muito a pena ler, acesse aqui a reportagem
na integra onde ela conta com mais detalhes sua adolescência e hoje o seu
cotidiano.
Espero
que vocês tenham gostado.
Beijos
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